domingo, 31 de outubro de 2010

pela Escócia


Foi sem pensar que cedi à tentação de passar mais um dia fora de St Andrews. Tende a ser a seguir aos momentos de ausência de pensamento que acontecem as melhores coisas ou, então, que cometo os maiores disparates. Enquanto ainda não reflectia, quebrei a rotina dos meus sábados de manhã e acordei às sete. Era ainda de noite, tinha os minutos contados para poder estar a horas decentes na paragem do autocarro que nos levaria a Dundee, cidade próxima, onde o carro tinha sido alugado. O destino era a competição de gaita-de-foles: Glenfiddich Piping Championship 2010, em Blair Atholl, uma cidade mais a norte da Escócia.




Seis horas a ouvir gaitas-de-foles dentro de uma sala repleta de chifres pendurados nas paredes foi difícil. A curiosidade em relação ao instrumento e ao seu som está totalmente satisfeita, não restam dúvidas nenhumas. Só preciso de um tempo de descanso até conseguir ouvir a próxima. Sobressaía distintamente o orgulho dos escoceses, com os seus kilts. Diferents xadrezes, cada um marcando a história do seu clã, combinados com casacos nem sempre bem escolhidos. As meias até ao joelho, verdes, cinzentas ou azuis e com sapatos pretos cujos atacadores são apertados no tornozelo. As saias de pregas até ao estômago são apertadas por uns enormes cintos de fivela. É nesses cintos que os homens apoiam as mãos enquanto estão parados à espera, seja do que for. Mas o acessório mais curioso - se é possível quantificar a curiosidade que tudo isto ainda desperta - é uma malinha. Uma malinha que trazem com uma corrente à volta da cintura, como se fosse uma das assustadoras bolsas de cintura, com fecho, que ainda por vezes se vêem em Portugal. Mas estas são diferentes: feitas de pele, com mais ou menos apetrechos, visam resolver a inexistência de bolsos no kilt. Perguntei-me várias vezes o que levariam os homens naquelas bolsinhas. Só depois da competição, enquanto comíamos fish and chips, descobri que moedas é um dos objectos ali colocados, quando atrás de nós um dos vencedores da competição abriu a sua pochette e tirou umas moedas para pagar a sua dose avantajada de fish and chips. Em casos extremos, há quem use uma bengala forrada com padrão de xadrez. Pela primeira vez na competição, houve uma rapariga a participar, a mais nova de sempre (18 anos). Reconheço-lhe todo o valor, pelo papel desempenhado num mundo de gaita-de-foles que continua a ser de homens, orgulhosamente nas suas saias, velhos e novos, gordos e magros, com xadrezes mal combinados ou com elegância digna de um segundo olhar. Passada a fase de ausência de reflexão, apercebi-me de como preciso de me concentrar no pouco tempo que tenho para fazer o muito planeado.

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