quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Uma semana

E passou a primeira semana. Num ápice, como se em tudo o que é novo houvesse já uma sensação de familiaridade. Não deixa de ser estranho. Embora tudo me fosse absolutamente desconhecido desde o primeiro minuto, nada doeu. Ou quase nada. Como se me tivesse vindo a preparar para tudo isto nos últimos anos. E de forma muito eficaz, concluo agora. Como se tivesse estado encostada a uma porta fechada, imaginando o que poderia estar do outro lado. Pensando nas várias formas do que poderia encontrar, tomando consciência do pior que poderia acontecer e ponderando, por vezes, se não perderia mais se a abrisse. Talvez fosse melhor deixar-me apenas encostada. Lá a abri e cá estou: com um pequeno mundo em construção à minha volta, no qual poderia ser o que eu quisesse. Sem esquecer que, uma semana depois, já recebi umas pantufas com uma história e um passado, um postal de St Andrews, um postal com uma pintura de William McTaggart, um monte de jornais, para além de um marcador de livros da Tailândia. Sem esquecer, claro, as dezenas de histórias que andam para trás e para a frente nas três ruas da cidade.

Soluços

Já percebi que há dias em que acordo e a minha comunicação com as pessoas está, logo à partida, condenada. Esqueço-me das palavras, misturo os verbos, falo aos soluços. E quanto mais vejo a cara de espanto das pessoas e o esforço que tentam fazer para me compreender, pior é. Só tenho de esperar que passe, amanhã espero acordar melhor.

Textbooks are 'lieux de mémoire'

Hoje o dia resumiu-se a leituras e à sensação de que passo as páginas demasiadamente devagar. Esse sentimento faz-me apressar nas seguintes cinco páginas e retardar o avanço novamente. Lidar com listas de leitura com pelo menos 15 livros, indicados para uma semana, exige encontrar soluções: criam-se grupos de leitura. Ou seja, cada um cria a sua estratégia. Há livros de leitura obrigatória e livros de leitura sugerida. O grupo de que passei a fazer parte decidiu dividir os livros sugeridos por cada pessoa: calhou, por sorte, um a cada. Assim, juntamo-nos uma ou duas vezes por semana e partilhamos os apontamentos. De outra forma, ninguém lá chegaria.

A primeira aula da próxima semana, da cadeira Issues in Peace and Conflict, será sobre a importância da História num conflito. Por outras palavras: a história como origem ou como 'cura' de um conflito.

Escolhi um livro de Elizabeth Cole, Teaching the Violent Past: history, education and reconciliation. Definido resumidamente, consiste em saber até que ponto pode a alteração dos livros de história do ensino secundário funcionar como forma de reconciliação. "Os livros de história são parte de um largo processo de negociação e de diálogo social, tendo em vista a representação simbólica do passado dividido e do futuro comum de uma sociedade". Segundo alguns estudos realizados, em casos específicos de alguns países (como Índia/Paquistão, Guatemala ou até Espanha), conclui-se que "da mesma forma que a história pode ser um factor contributivo para a continuação de um conflito, também os programas e livros escolares podem funcionar como catalisadores de um conflito". Uma outra definição, mais simples, considera os livros de história como "lieux de mémoire", "locais onde a nossa memória colectiva é armazenada e disponível para consumo público" [Pierre Nora].

E assim se passa um dia de sol por aqui. Tive ainda tempo de ir ao supermercado, perceber que só existe salmão e bacalhau (!) como peixe. Procurar puré e não encontrar, comprar meio pepino e laranjas, esperar 20 minutos para ser atendida (ninguém reclama, acho incrível) e voltar para casa. Para continuar a ler. Descobri também que uma viagem de comboio de Edimburgo para Londres custa cerca de €100. E a senhora aqui de casa hoje deu-me um postal de St. Andrews e deixou-me o Times em cima da cama ("já não havia o Guardian", disse).

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

The paper!

É especial quando a menos de um semana de estar aqui, consigo imaginar-me a ter saudades de pequenos pormenores. Primeiro, acordar com penas do edredão na boca. Segundo, depois de ter visto a torrada saltar quatro centímetros acima da torradeira, tê-la comido e lido o jornal do dia anterior, sentirei saudades de subir as escadas de alcatifa avermelhada com os pantufões brancos, o jornal na mão e uma caneca de café, que aguentará a manhã toda na minha escrivaninha.

E em terceiro lugar, mas no topo das saudades, há outro momento. Batem à porta, respondo e oiço: "The paper!". É a senhora, dona da casa, que me vem trazer o Guardian. É esse o jornal que lerei no dia seguinte, enquanto como a torrada.

Telefone

Cada vez que oiço o telefone tocar cá em casa, agora que cá estou dentro, lembro-me de como o ouvi tocar há quase uma semana, quando ainda estava à porta de casa, à chuva, à meia-noite, nove horas depois de ter saído da minha casa em Lisboa.

Três quartos

Numa conversa com um escocês, com sotaque escocês, três quartos da conversa é o que consigo perceber. Ficam para trás palavras e pormenores. Retiro o suficiente para perceber do que estão a falar. Por vezes não é o suficiente para conseguir responder decentemente. E há sempre o momento em que eu sorrio e digo 'okay', e afinal deveria estar a responder a uma pergunta.

Clãs no livro azul

Decidi percorrer uma das três ruas desta cidade, de uma ponta à outra. A verdade é que desde a minha chegada, ainda só tinha conhecido as ruas aos pedaços. E pouca noção tenho do que rodeia St. Andrews. Percebo, de certa forma, por que razão os professores - no discurso de entrada no ano lectivo, o tal evento com gaita-de-foles - apelam aos alunos que não se remetam apenas à cidade. "Há muito a descobrir na Escócia", dizem. Pois, há que ter em conta que, por um lado, há muita coisa a fazer aqui. E, sinceramente, há que ter em conta também que não somos milionários. Ou talvez alguns sejam, mas não todos.

Então decidi percorrer uma rua de uma ponta à outra. A South Street, creio eu. Entrei numa loja que vende roupa em segunda mão, terrível, vinis (Carla!), cds e, numas prateleiras ao fundo da loja, alguns livros antigos. História, biografias, receitas... e, por trás de um grande livro, encontrei um pequeno, de capa dura, azul, meio rasgado. Este tipo de descobertas fazem-me sempre desejar que o livro seja tão especial e barato que me façam comprá-lo.

Abri-o. Tem menos de um palmo de comprimento e um dedo e meio de altura. Folheei-o e percebi que falava dos 'scottish clans'. Confesso que nunca tinha ouvido falar de tal coisa, embora tenha achado engraçado haver uma história para cada nome, associada a um específico padrão de tartan (os conhecidos 'xadrezes' escoceses). Não achei suficientemente bom para comprar, pois não dei a devida importância ao assunto. Razão: ignorância. Sobretudo porque custava £1.

Mais tarde, juntei-me à minha turma (somos 30) num pub, com todos os professores. Conversas interessantes sobre a vida na África do Sul, sobre como é possível ser-se indiana sul-africana, ou angolano sul-africano, sem que com isso haja algum problema. Conversas com um professor sobre Portugal: 'I urge you to risk', disse-me. "Be different". Partilha de conclusões sobre como a conversa com um soldado pode explicar melhor, e de forma mais simples, o que realmente se passa num conflito. E, ainda, conversa sobre como os escoceses fritam as pizzas, as barras de chocolate Mars ou tudo o que lhes apareça.

Adiante na conversa sobre a Escócia, com um colega escocês, ouvi falar sobre scottish clans. E, num segundo, percebi que o livro de capa dura azul, escondido atrás do outro, assinado a tinta e com letra perfeita, deveria afinal ter vindo comigo. Por £1. Tentei ir comprá-lo hoje, mas não encontrei a loja.

Chuva

Consegui ouvir a chuva à noite, ainda que o edredão que me tapa seja magicamente quente. A única vantagem deste sítio ser tão frio é que a almofada arrefece automaticamente. Poupa-me assim o trabalho de a virar durante a noite.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desvio de bota


Ponho-me na faculdade em 4 minutos. Tenho sempre de reflectir, antes de abrir e fechar as portas da casa. Há determinadas regras, muito concretas, e tenho de olhar para as chaves para as reconhecer visualmente e associá-las às indicações que me foram dadas. Fechada a porta, arranco em passos apressados. Isto porque estar a 4 minutos da faculdade faz-me sair de casa em cima da hora. Apresso os passos o mais que posso, mas andar de botas de esquimó não é fácil (nunca pensei ver-me a usar isto onde quer que fosse, mas o frio é muito). Levantar um pé a seguir ao outro e com alguma velocidade torna-se tarefa complicada. Mas aí vou eu, lutando contra os paralelepípedos de pedra, desengonçados eles e eu. Pior ainda, estão a compor as canalizações aqui, portanto há zonas em que temos de esperar para deixar passar um pequeno guindaste, muito pequeno, que está a atravessar a estrada. A meio do caminho - que não é muito longo - começo a dar conta de um desvio da bota direita. Ou seja, aparentemente o pé manteve-se direito e a bota começou a desviar-se para a esquerda. Dou conta que tenho o pé perdido dentro da bota, mas não páro de andar. Concluo pela primeira vez que, das duas uma, ou tenho um pé torto ou a bota comprada em Portugal (à qual a vendedora se referiu como "estas botas vão vender que nem luvas") estará mal feita. Sigo o meu caminho e, pela primeira vez, em muito tempo, consigo sentir-me incomodada pelo tamanho calor dos meus pés. Há que adequar melhor o vestuário neste sítio.


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Riscos

Um rapaz indiano que está a estudar cá contou-me a história da vida dele. Depois de me explicar como os pais são capazes de se dedicar a um só objectivo na vida - formar um filho -, descreveu-me o que sentiu quando esteve em Portugal. "Vou ser sincero: gostei muito do país, mas senti que há uma coisa que nos separa. Vocês não precisam de arriscar na vida e nós arriscamos desde o dia em que nascemos". Concordei e ele concluiu. "E um indiano, quando arrisca e as coisas correm mal, não pára. Segue e arrisca ainda mais".

É possível querer voltar

Em conversa com um militar americano soube que, pela adrenalina, é possível querer voltar para uma guerra. Voluntariar-se para ser enviado: não pela primeira vez, mas pela segunda.

Já tenho 5p


Percebi hoje que há pessoas, funcionários de uma qualquer câmara, que passam o dia a apanhar o menor lixo que haja no chão. Refiro-me a palitos, mini-beatas ou qualquer bolinha de papel enrolada durante a espera numa fila. E apanham esses pormenores com tanto cuidado e detalhe, que me foi difícil acreditar que aquilo estivesse a acontecer. Com esse detalhe só tenho apanhado moedas de 1p. São incrivelmente brilhantes contra o chão de pedra, perfeitamente visíveis, mas ninguém as apanha. Eu já tenho 5p.

Dia de arranque

Hoje é dia de arranque de um novo ciclo para muita gente. Seja em novos trabalhos, em novos cursos ou em novos projectos. Hoje, partilhamos a sensação de novidade.

domingo, 26 de setembro de 2010

Experiência gastronómica

Antes de mais, há que dizer: ver chefes de cozinha a trabalhar ao longo de três anos acalmou em mim o ódio pela cozinha. Sosseguei a contrariedade que sentia ao aproximar-me do fogão, sobretudo para refeições quotidianas. Passou a fase do atum com esparguete, ambos secos e rapidamente cozinhados: aqui decidi aplicar os conhecimentos que fui adquirindo. Até porque comer na rua é caro. Basta o preço de uma cerveja, de vez em quando.

Portanto, o sítio que conheço melhor até agora é o supermercado. Sei que fecha à meia-noite, o que é fabuloso (nem em Portugal). Dou comigo a folhear livros de receitas e a pedir a chefes que me mandem qualquer sugestão de vez em quando. Obviamente não tenciono fazer um bisque de crustáceos ou um macarron de chocolate.

Mas hoje tive oportunidade de provar uma delícia escocesa: haggis. Estômago de carneiro recheado com as vísceras, ligadas com farinha de aveia. Ora vejamos na versão inglesa que nos oferece a wikipedia:

Haggis is a dish containing sheep's pluck (heart, liver and lungs), minced with onion, oatmeal, suet, spices, and salt, mixed with stock, and traditionally simmered in the animal's stomach for approximately three hours.

Posso dizer que é bom, soube-me bem. Comi há umas quatro horas e estou impecável. Verei amanhã.



Confirma-se

A lesma é um animal doméstico. Ao terceiro dia, volta a estar no tapete da cozinha, onde fica a dar voltas - imagino eu - a noite toda. Quando contei isto a uma rapariga, tive de referir-me a um caracol mas que não tem a sua casa às costas, para explicar a que animal me referia. Neste momento, só me falta saber o nome. E saber onde é que a lesma passa o seu dia...

Pantufões

E porque tudo aqui acontece num segundo: recebi umas pantufas brancas de penas da dona da casa. Comentei ontem que os meus pés estão sempre gelados e que aguardo, literalmente, a chegada do correio com um grande caixote de roupa, incluindo os meus pantufões. Parece que a senhora me percebeu bem. Trouxe-me uns pantufões brancos. E explicou-me que eram do marido de uma senhora que há uma meia hora esteve a conversar com ela à porta de casa. A senhora está num dia mau, disse-me. Mora aqui umas casas à frente e o marido morreu há pouco tempo. Ela veio cá dar as pantufas dele. Ou, corrigindo, pantufas que ele nunca chegou a usar. Confesso: são adoráveis.

Descoberta

Há casamentos na Índia com mil convidados, que duram vários dias porque há muitas cerimónias dedicadas a diferentes deuses. E, mais, a família do noivo tem de arranjar 31 vestidos para o primeiro mês de casamento da noiva. Para além dos diamantes e outras jóias. Mais ainda: há dias em que acontecem milhares de casamentos, cada um com milhares de convidados.

Domestic Slug

E ao terceiro dia conseguirei perceber se a lesma que vi as duas últimas noites no tapete da cozinha é um animal de estimação.

A casa existe

Tudo começa no momento em que se quer um bocadinho mais. É bom, mas é aí que começa tudo. Inicia-se a luta contra o que é habitual, o que é suposto. E há duas opções: ou se é engolido, ou se arrisca. Arrisquei. E, no momento seguinte, estava no aeroporto à espera de um voo com destino a Edimburgo. Com uma mala enviada para o porão, com 18 kg (máximo: 20), porque depois de tantas revisões da roupa que poderia trazer acabei por não trazer quase nada. Cinco horas depois de ter chegado ao aeroporto, entro no avião. Ao meu lado, uma senhora portuguesa passou o tempo a fazer palavras cruzadas. Na única vez em que olhei com mais detalhe para o que ela estava a fazer - lamento tê-lo feito - percebi que ela no fundo procurava palavras como "bróculos", "batata", "cebolinho", numa enchente de letras misturadas.

Chegada a Edimburgo, três horas depois do suposto, não tinha transporte nenhum à minha espera como combinado. A primeira pessoa com quem falei, e que espero voltar a ver no aeroporto, disse-me que a senhora que eu procurava estava "aué" e não "auei". Encarei o meu primeiro desafio: percebê-los.

Encarei o segundo desafio: esperar duas horas sentada. O motorista do 'táxi comunitário' veio ter comigo: um senhor com 1.90m, idêntico ao Robbie Coltrane, ou seja, o Hagrid do Harry Potter. De seguida: uma viagem de 1h10, noite escura, chuva, trânsito ao contrário. Um miúdo americano, sentado atrás de mim, conseguiu aproveitar esse tempo para beber tudo o que podia. Chegámos a Saint Andrews, cidade perdida no meio do nada (ou assim fiquei eu com a impressão): era meia noite de quinta-feira. Deixaram-me à porta da casa onde iria ficar as seis semanas seguintes. Primeiro alívio: o número 17 existia. Terceiro desafio: estaria a senhora a dormir? Chovia, o frio entranhava-se e sentia-me a tremer. Toquei à porta e nada, bati à porta e nada, telefonei e ouvi o telefone tocar, o que me aliviou, mas ninguém abria. Até que aparece a senhora com quem até então apenas tinha trocado emails. Enrolada no seu robe. Consegui pedir desculpa e explicar, em meias palavras, como tinha sido um dia infernal.

Carreguei os 18Kg de mala pelas escadas acima. Escadas alcatifadas, com estantes de livros. Pouco mais conseguia ver. O quarto: adorável. Uma escrivaninha antiga em frente a uma grande janela, com vista para a rua e para uma casa antiga, de pedra (tem um brasão onde diz 1561). Tenho vista para uma enorme chaminé onde pousam uns passarões de vez em quando e, incrivelmente, há borboletas que vêm contra a minha janela.

Cidade de muitas histórias que vão surgindo devagar. Há alfarrabistas no meio da estrada. Entre Sócrates e Platão, há postais antigos e fotografias dos antepassados escoceses, com grandes vestimentas. Os edifícios da universidade são antigos, de pedra, majestosos. E as aberturas do ano lectivo incluem um escocês de kilt, a tocar gaita-de-foles, que aparece à frente dos directores de cada faculdade. Temos de estar em pé e vemo-los entrar, em fila, com enormes capas aos ompros, de diferentes cores. Os discursos têm todos um toque de humor e há professores que são apresentados como "pessoas que estão na universidade há 150 anos".

É também local
de muitas conversas, de onde saem belíssimas experiências. E amanhã começam as aulas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Categoria de países esquisitos

Numa passagem pelo notário, a poucos dias de partir, tive a alegria de encontrar um espaço novo, envidraçado e agradavelmente sem ninguém. Foi essa a melhor sensação. Dedicar uma manhã a cada um dos serviços públicos - para muitas vezes ter de lá voltar no dia seguinte- foi o que mais me aconteceu nas últimas semanas. Mas um notário em Torres Vedras é um local que podemos encontrar praticamente vazio. Valeu pela simpatia, pelo rápido atendimento - ainda que tenha acabado por lá ficar uma hora - e pelo incentivo. Concluo que há uma qualquer empatia em relação a quem decide sair do país. Seja por pena, seja por valorização. Seja ainda uma certa protecção maternal, uma consciência por ter já estado em situação semelhante ou, apenas, por imaginar que alguém próximo possa estar na mesma situação. Uma compreensão e quase uma espécie de receio perante a partida breve de alguém, sobretudo para um sítio desconhecido.

Ao ponto da senhora do notário, antes de eu agradecer e sair, me ter perguntado se ia estudar para fora. Disse-lhe que sim. "Vai para um país esquisito?", perguntou-me. Por segundos, parei para pensar qual seria a categoria dos países esquisitos. E no instante a seguir pensei em como tudo pode afinal ser tão relativo quando na cabeça de alguém existem países esquisitos. Conclui que deveriam ser países dos quais não sabe o nome, aqueles de que falam na televisão. Disse-lhe que não, que não era um dos países esquisitos. Só saberei se lhe respondi correctamente se um dia lá voltar e perguntar quais são os países esquisitos. Mas senti nela um certo alívio. Agradeci -lhe pela preocupação.

Antes de eu sair do notário, a senhora gritou 'Boa sorte!'. Ao olhar para trás, vi que ela tinha a mão direita fechada, com o polegar a apontar para o tecto. E nesse momento, a dois dias de sair de Portugal, percebi que uma senhora de um notário me lançou um "fixe".