Segui pelo passeio da Market Street, com obras em vários pontos da rua, do lado contrário ao do supermercado. Por entre carros e pessoas, ouvi um acordeão. Por instantes, a familiaridade de ouvir acordeões nas ruas de Lisboa - nem sempre pelas melhores razões - fez com que a curiosidade se aguçasse a ela própria. Olhei para o lado contrário e não vi nada. Mas continuava a ouvi-lo. Talvez por ter despertado o meu sentido auditivo nesses instantes, consegui ter a percepção assustadora de ouvir um tremendo arroto de um senhor das obras. Instintivamente procurei saber de onde é que o som teria vindo e deparo-me directamente com um homem de fato-macaco e um capacete de protecção branco, uma vez mais com enormes olhos azuis, já com pelo menos meio século de vida. Envergonhado, coisa que me deixou mais admirada que o próprio ecoar do som que ele emitiu, pediu-me imensas desculpas. "I am so sorry, miss". Perante tal arrependimento, tive vontade de lhe dizer 'no problem', mas não achei que fosse a resposta mais acertada. Quando já vinha de regresso para casa, desta vez no passeio do supermercado, oiço novamente o acordeão. Sentado no degrau da porta de uma casa, um senhor tocava acordeão. Pelos traços, pareceu-me ser do leste da Europa. Tinha um cestinho de verga vazio nos pés e, simpaticamente, riu-se. Talvez tenha sido a única pessoa a dar pela presença dele naquele sítio e respondi à simpatia. Por um instante, mesmo que não pelas melhores razões, senti-me perto de Lisboa.
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