domingo, 20 de março de 2011

Sarajevo-Zagreb em silêncio

Acabados os meus dias em Sarajevo, dia 13 de março, dirigi-me logo de manhã para a estação de autocarros. Despedimo-nos todos no hotel, depois do último pequeno almoço de pão, manteiga, doce e café. Cheguei à estação com mais dois amigos, tencionando levantar dinheiro para o bilhete numa máquina da estação. Faltavam quinze minutos para o meu autocarro, que levaria seis horas a chegar a Zagreb, menos quatro que o comboio. Assim que cheguei percebi que a máquina não estava a funcionar e que o autocarro afinal levaria nove horas a chegar a Zagreb. Depois de ter resolvido o assunto, corri para o meu autocarro, parado na última linha da estação. Sem termos uma língua em comum, o condutor insistiu em explicar-me alguns detalhes sobre a viagem e sobre a mochila que eu ia deixar na bagageira do autocarro. Explicou-me tudo em bósnio, embora tenha dado a entender que não o perceberia. Pediu-me um euro, ou dois marcos, para manter a minha mochila na bagageira. Subi para o autocarro para perceber que o meu lugar estava ocupado por um saco de plástico com o farnel de um senhor sentado no banco do lado. Sabia que não nos íamos entender, optei por me sentar noutro banco, fazendo sons e gestos para dizer 'é o meu banco, mas não há problema , sento-me noutro'. Sentei-me atrás dele, fazendo o meu saco do farnel ocupar o banco ao meu lado. Esperavam-me nove horas sentada, sem sequer conseguir perceber por quanto tempo o autocarro parava para irmos à casa de banho. 
Viria a dar conta durante a viagem que havia dois condutores. Um deles, o que insistia em explicar-me tudo em bósnio, era um senhor arranjadinho. Uma camisola de riscas, aprumado, umas calças azuis de motorista de autocarro, que tiveram um vinco durante as primeiras horas de viagem e o foram perdendo. O outro motorista era mais novo, mais moderno, mais despachado. Trocaram  de lugar uma ou duas vezes durante a viagem, numa das inúmeras paragens que separaram Sarajevo de Zagreb.  Das vezes que parámos, fui sempre a mais rápida a ir à casa de banho, com receio de que  aquilo que eu ouvia dizer quando o autocarro parava - 'pausatakaminuta' - fosse pausa de dois minutos. O maior tempo que passámos parados foi no controlo de passaportes na fronteira. Graças a uma rapariga que falava inglês, consegui entender que tinha de sair do autocarro com o meu passaporte (que já tinha sido visto dentro do autocarro) e fazer parte de uma fila. De regresso ao autocarro, percebi que o senhor do banco da frente já tinha mudado. Tinha entrado um velhinho perfumado que ocupou o lugar do saco do outro senhor e que levou o seu livro aberto no resto da viagem. 
Cheguei a Zagreb oito horas depois de ter saído de Sarajevo, com um estranho aperto de saudades de uma cidade que uma semana antes não conhecia. Sem imaginar que um só dia na capital croata seria suficiente para deixar as melhores recordações.

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