Acordar às cinco e meia da manhã, apanhar o primeiro avião às sete e meia e chegar a casa às sete e meia da noite. São doze inevitáveis horas entre Lisboa e St Andrews. Horas que se dividem entre um estado neutro, um estado de arrependimento do momento em que decidi vir e um estado de respirar fundo e pensar que vai ser bom. Durante as doze horas, tive a sensação de ter visto portugueses por todo o lado. Sentada na estação de Ferrytoll, uma salinha pequena e aquecida, com uma máquina de café moderna que só serve café a quem trouxer o copo no bolso, reparei que o saco de plástico que embrulhava o folhado do rapaz ao meu lado dizia 'Continente'. Ou outro rapaz, também por certo português, não só pela cara e a forma como afastava dos olhos uns caracóis pouco lavados, como pela expressão de encanto e felicidade com que entrava no autocarro que nos tinha levado até ao avião, ainda no aeroporto de Heathrow.
A espera no aeroporto de Heathrow é, em si mesma, uma viagem. Todas as culturas, religiões, países. É possível dar uma volta ao mundo em curtas horas de observação das pessoas. Depois de ver três indianos, um homem e duas mulheres, provavelmente da mesma família e claramente de gerações diferentes, sentadas umas ao lado das outras a comer milimetrica e simultaneamente uma banana, achei que me deveria sentar mesmo à frente deles. Concluí depois que o senhor três assentos ao lado poderia ser afegão. Tinha uma fabulosa flexibilidade das pernas. Tentava dormir sentado num dos bancos, de meias, com as pernas tão dobradas que os joelhos chegavam facilmente aos ombros, como se a barriga bem visível não afectasse a ginástica das jovens pernas. Até que tirou da sua saca uma caixa embrulhada num outro saco, com uma comidinha que levava à boca com uma colher de plástico. As pernas nunca foram desdobradas, pelo que a ginástica eram ainda maior de maneira a levar a colher da caixa à boca, sem nenhuma alteração da sua posição.
Passada a espera no aeroporto, esperava novamente para entrar no meu terceiro e último autocarro do dia e reparei que os motoristas têm ferramentas originais, para enfrentar o frio e a neve (a salientar o facto de eu ter encontrado a Escócia tal e qual como a deixei ha um mês atrás, ainda que só tenha recomeçado a nevar ontem). Uma dessas ferramentas é um enorme regador de jardim, de lata velha, onde põem água quente e a fumegar, que deitam para dentro de uma portinha que abrem mesmo na frente do autocarro. Por baixo do vidro, levantam a portinhola e lançam os dez fios de água simultâneos, ou não vá o regador estar preparado para não ferir as plantas.
Assim que cheguei a St Andrews, arrastei a minha mala de rodinhas pela neve, a escorregar por causa das solas das minhas botas. Voltei à sensação de ficar sem dedos dos pés, sempre a doer mais do pé esquerdo. Voltei ao supermercado e às minhas compras automáticas. E voltei a esta casa. Ainda que no fim do dia de hoje só me apetecesse uma única coisa: voltar para a minha casa.
A espera no aeroporto de Heathrow é, em si mesma, uma viagem. Todas as culturas, religiões, países. É possível dar uma volta ao mundo em curtas horas de observação das pessoas. Depois de ver três indianos, um homem e duas mulheres, provavelmente da mesma família e claramente de gerações diferentes, sentadas umas ao lado das outras a comer milimetrica e simultaneamente uma banana, achei que me deveria sentar mesmo à frente deles. Concluí depois que o senhor três assentos ao lado poderia ser afegão. Tinha uma fabulosa flexibilidade das pernas. Tentava dormir sentado num dos bancos, de meias, com as pernas tão dobradas que os joelhos chegavam facilmente aos ombros, como se a barriga bem visível não afectasse a ginástica das jovens pernas. Até que tirou da sua saca uma caixa embrulhada num outro saco, com uma comidinha que levava à boca com uma colher de plástico. As pernas nunca foram desdobradas, pelo que a ginástica eram ainda maior de maneira a levar a colher da caixa à boca, sem nenhuma alteração da sua posição.
Passada a espera no aeroporto, esperava novamente para entrar no meu terceiro e último autocarro do dia e reparei que os motoristas têm ferramentas originais, para enfrentar o frio e a neve (a salientar o facto de eu ter encontrado a Escócia tal e qual como a deixei ha um mês atrás, ainda que só tenha recomeçado a nevar ontem). Uma dessas ferramentas é um enorme regador de jardim, de lata velha, onde põem água quente e a fumegar, que deitam para dentro de uma portinha que abrem mesmo na frente do autocarro. Por baixo do vidro, levantam a portinhola e lançam os dez fios de água simultâneos, ou não vá o regador estar preparado para não ferir as plantas.
Assim que cheguei a St Andrews, arrastei a minha mala de rodinhas pela neve, a escorregar por causa das solas das minhas botas. Voltei à sensação de ficar sem dedos dos pés, sempre a doer mais do pé esquerdo. Voltei ao supermercado e às minhas compras automáticas. E voltei a esta casa. Ainda que no fim do dia de hoje só me apetecesse uma única coisa: voltar para a minha casa.
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