O meu objectivo era chegar ao aeroporto de Edimburgo às 4 horas da manhã de uma quinta-feira, para um voo às 6. Como não existe estação de comboio em St Andrews e os autocarros para Edimburgo terminam por volta das 19h, tinha duas soluções: passar onze horas no aeroporto ou apanhar um táxi. Decidi apanhar um táxi para vir a concluir que é uma profissão muito característica, onde quer que se esteja. E concluir ainda que seria uma delícia um dia juntar taxistas portugueses e escoceses.
Combinámos às duas da manhã junto à fonte e assim caminhei eu para lá, alguns minutos antes. Duas da manhã é uma hora em que a cidade está absolutamente morta, as ruas abandonadas, como se sem sabermos tudo tivesse fugido. Arrastei a minha pequena mala pelas pedras, evitando acordar os dois lados da rua. Enquanto me aproximava do local combinado, vejo um táxi a acender as luzes e iniciar lentamente uma volta silenciosa à fonte. Fui-me aproximando, quebrando o silêncio com as rodas da mala, mas quanto mais me chegava perto do táxi, mais entrava na ausência de vista do seu condutor, que continuava a volta silenciosa à fonte. Dei por mim a rir, sozinha, dado o ridículo de continuar a arrastar a minha mala lentamente atrás de um táxi que insistia em não parar. Assim que finalmente me viu, iniciou-se a saga até ao aeroporto.
Pedi ainda o favor de passar à porta da biblioteca, para que pudesse deixar dois livros na caixa do correio - caso contrário, pagaria a multa da minha vida se não os devolvesse durante a semana em que viria a estar no Luxemburgo. Dali seguimos para o aeroporto de Edimburgo, numa viagem surreal até à auto-estrada. Estradas sem um único ponto de luz, com excepção dos olhos iluminados dos coelhos, esquilos e, poderia jurar, até um mega-ouriço que, encantados e desnorteados por tamanha mudança de luz na sua vida, decidiram cruzar as estradas. De resto, nada mais. As estradas têm dois sentidos, trocados para a perspectiva de alguns condutores europeus, e no total terão a largura necessária para caberem dois carros dos mais estreitos. Portanto, a maior parte da viagem é feita no meio das duas faixas, por entre curvas cuja direcção é invisível até ao momento em que já acabaram. De onde em onde, placas que se iluminam com a luz dos faróis anunciam 'lomba sem visibilidade'. Isso significa descer a um nível consideravelmente inferior, observando lá de baixo o carro que vem, lá em cima, em sentido contrário. Sem que tivesse nenhuma ideia se estaria a caminho do aeroporto ou não, tentei apreciar a viagem.
Soube que o senhor, tipicamente escocês, de barriga bem mais visível que as curvas da estrada, é adepto do Manchester United. Dei conta da minha ignorância, perguntando se 'nessas equipas' não existem jogadores portugueses. Também me falou de Fátima, quando a conversa se estendeu a Portugal. A simpatia fez com que falássemos sobre o seu percurso como taxista. Percebendo por vezes só algumas das palavras que compunham as suas frases - repito, ele era escocês - percebi que tinha sido pescador durante muito tempo. É claro que estas conversas ficam sempre ao gosto de cada um... Falámos sobre as estradas também, ele explicou-me que estava a seguir um atalho para o aeroporto. Depois de os olhos se habituarem à escuridão, encostada ao vidro do lado esquerdo, consegui lá bem longe ver algumas estrelas, que pela primeira vez me deram conforto. Percebi, depois de ele me ter explicado, que a faixa ao longe onde não se via luminosidade nenhuma era mar. Estávamos a fazer o percurso junto à costa. Abordámos mais tarde o tema 'taxista'. Expliquei que em Portugal era uma profissão interessante, que se aprendia muito com taxistas e que às vezes havia alguns conflitos entre eles. Lançou a gargalhada do dia e garantiu-me que isso não acontecia aqui. Ao fim de uma hora e meia, deixou-me no aeroporto. Dei-lhe o dinheiro para a mão e perguntou-me: "quer o troco?". Tive de dizer que sim, eram cinco libras. Aí concluí que os taxistas portugueses e escoceses não só entender-se-iam muito bem, como também, afinal, teriam muito para ensinar uns aos outros.
Combinámos às duas da manhã junto à fonte e assim caminhei eu para lá, alguns minutos antes. Duas da manhã é uma hora em que a cidade está absolutamente morta, as ruas abandonadas, como se sem sabermos tudo tivesse fugido. Arrastei a minha pequena mala pelas pedras, evitando acordar os dois lados da rua. Enquanto me aproximava do local combinado, vejo um táxi a acender as luzes e iniciar lentamente uma volta silenciosa à fonte. Fui-me aproximando, quebrando o silêncio com as rodas da mala, mas quanto mais me chegava perto do táxi, mais entrava na ausência de vista do seu condutor, que continuava a volta silenciosa à fonte. Dei por mim a rir, sozinha, dado o ridículo de continuar a arrastar a minha mala lentamente atrás de um táxi que insistia em não parar. Assim que finalmente me viu, iniciou-se a saga até ao aeroporto.
Pedi ainda o favor de passar à porta da biblioteca, para que pudesse deixar dois livros na caixa do correio - caso contrário, pagaria a multa da minha vida se não os devolvesse durante a semana em que viria a estar no Luxemburgo. Dali seguimos para o aeroporto de Edimburgo, numa viagem surreal até à auto-estrada. Estradas sem um único ponto de luz, com excepção dos olhos iluminados dos coelhos, esquilos e, poderia jurar, até um mega-ouriço que, encantados e desnorteados por tamanha mudança de luz na sua vida, decidiram cruzar as estradas. De resto, nada mais. As estradas têm dois sentidos, trocados para a perspectiva de alguns condutores europeus, e no total terão a largura necessária para caberem dois carros dos mais estreitos. Portanto, a maior parte da viagem é feita no meio das duas faixas, por entre curvas cuja direcção é invisível até ao momento em que já acabaram. De onde em onde, placas que se iluminam com a luz dos faróis anunciam 'lomba sem visibilidade'. Isso significa descer a um nível consideravelmente inferior, observando lá de baixo o carro que vem, lá em cima, em sentido contrário. Sem que tivesse nenhuma ideia se estaria a caminho do aeroporto ou não, tentei apreciar a viagem.
Soube que o senhor, tipicamente escocês, de barriga bem mais visível que as curvas da estrada, é adepto do Manchester United. Dei conta da minha ignorância, perguntando se 'nessas equipas' não existem jogadores portugueses. Também me falou de Fátima, quando a conversa se estendeu a Portugal. A simpatia fez com que falássemos sobre o seu percurso como taxista. Percebendo por vezes só algumas das palavras que compunham as suas frases - repito, ele era escocês - percebi que tinha sido pescador durante muito tempo. É claro que estas conversas ficam sempre ao gosto de cada um... Falámos sobre as estradas também, ele explicou-me que estava a seguir um atalho para o aeroporto. Depois de os olhos se habituarem à escuridão, encostada ao vidro do lado esquerdo, consegui lá bem longe ver algumas estrelas, que pela primeira vez me deram conforto. Percebi, depois de ele me ter explicado, que a faixa ao longe onde não se via luminosidade nenhuma era mar. Estávamos a fazer o percurso junto à costa. Abordámos mais tarde o tema 'taxista'. Expliquei que em Portugal era uma profissão interessante, que se aprendia muito com taxistas e que às vezes havia alguns conflitos entre eles. Lançou a gargalhada do dia e garantiu-me que isso não acontecia aqui. Ao fim de uma hora e meia, deixou-me no aeroporto. Dei-lhe o dinheiro para a mão e perguntou-me: "quer o troco?". Tive de dizer que sim, eram cinco libras. Aí concluí que os taxistas portugueses e escoceses não só entender-se-iam muito bem, como também, afinal, teriam muito para ensinar uns aos outros.
1 comentário:
mega-ouriços encantados! Eu adoro!! :-)
Gerinhas, quero muito outro almoço quando regressares!
Beijinhos!
NF
Enviar um comentário