Absorvidos muitos dos hábitos escoceses, está adaptada a minha vida a esses mesmos hábitos e tradições. Este sentimento faz-me lembrar uma conversa que um dia tivemos com um jornalista americano, Raymond Bonner. Há um risco em ficar-se cego ao que nos rodeia quando passamos muito tempo num mesmo sítio. Como quando um jornalista chega a um país, como correspondente estrangeiro, e consegue identificar a presença de militares na rua. Poderá dizer que se vive um ambiente de repressão. "Dois ou três anos depois, isso passa a fazer parte do dia-a-dia", deixando de o ver como uma característica do ambiente da cidade.
Entende-se melhor o sotaque escocês, estão entranhados os estranhos horários, abandonei os lanches e só almoço e janto (e ceio, lamento). Já sei que "sair à noite" significa encontrarmo-nos às 20h30 e sair de uma discoteca às 2h. Já não faço os maiores caminhos e conheço os atalhos, diminuo o tempo de chegada às aulas. Reconheço as garrafas de leite e a inexistência de pacotes, aceito o facto de os multibancos terem no máximo três opções diferentes de operações (somos mesmo evoluídos, nós portugueses), já sei que se estende a mão a quem não se conhece e se dá um abraço estranho a quem já se conhece, habituei-me a pagar 1.25£ por um café expresso que me vou arrepender de ter bebido, aceito o facto de ter de subsitituir o hábito do café pelo hábito do chá. Assim como, depois de mais de uma semana de caos, a neve e tornou uma companhia (nem sempre boa), ou como as pedras onde o carteiro entala o carrinho se transformaram numa inteira pista de gelo, gerando ameaças de quedas aparatosas. Já sei que os autocarros podem chegar atrasados e que as estradas deste país são péssimas (alguém que diga mal das portuguesas venha para cá viver). E também cá, numa mesma chamada telefónica para um qualquer serviço público, conseguimos falar com três departamentos diferentes, deixar o nosso número de telefone e soletrar repetidamente o nosso nome, para que no fim ninguém saiba dar uma resposta.
É no entanto um país lindíssimo.
Se sair de Portugal e viver outros mundos pode ser sinónimo de um reconhecimento em como nos falta valorização, oportunidades, recompensa ou trabalho, também pode ser um reconhecimento de que temos uma maneira de viver muito especial e, sem que nos apercebamos, com uma tremenda personalidade. Em conversa com um dos casais mais simpáticos a viver há muitos anos em St Andrews, falámos sobre cidades portuguesas que eles já tinham visitado. A comida, o vinho, a serra, o mar, a História. No meio da conversa, confessou-me algo que me fez pensar. "Já visitei muitos países, mas se pudesse escolher um país para passar o fim da minha vida, garanto-lhe que seria Portugal". Para onde é que se vai se, em princípio, não se estiver no fim da vida?
Entende-se melhor o sotaque escocês, estão entranhados os estranhos horários, abandonei os lanches e só almoço e janto (e ceio, lamento). Já sei que "sair à noite" significa encontrarmo-nos às 20h30 e sair de uma discoteca às 2h. Já não faço os maiores caminhos e conheço os atalhos, diminuo o tempo de chegada às aulas. Reconheço as garrafas de leite e a inexistência de pacotes, aceito o facto de os multibancos terem no máximo três opções diferentes de operações (somos mesmo evoluídos, nós portugueses), já sei que se estende a mão a quem não se conhece e se dá um abraço estranho a quem já se conhece, habituei-me a pagar 1.25£ por um café expresso que me vou arrepender de ter bebido, aceito o facto de ter de subsitituir o hábito do café pelo hábito do chá. Assim como, depois de mais de uma semana de caos, a neve e tornou uma companhia (nem sempre boa), ou como as pedras onde o carteiro entala o carrinho se transformaram numa inteira pista de gelo, gerando ameaças de quedas aparatosas. Já sei que os autocarros podem chegar atrasados e que as estradas deste país são péssimas (alguém que diga mal das portuguesas venha para cá viver). E também cá, numa mesma chamada telefónica para um qualquer serviço público, conseguimos falar com três departamentos diferentes, deixar o nosso número de telefone e soletrar repetidamente o nosso nome, para que no fim ninguém saiba dar uma resposta.
É no entanto um país lindíssimo.
Se sair de Portugal e viver outros mundos pode ser sinónimo de um reconhecimento em como nos falta valorização, oportunidades, recompensa ou trabalho, também pode ser um reconhecimento de que temos uma maneira de viver muito especial e, sem que nos apercebamos, com uma tremenda personalidade. Em conversa com um dos casais mais simpáticos a viver há muitos anos em St Andrews, falámos sobre cidades portuguesas que eles já tinham visitado. A comida, o vinho, a serra, o mar, a História. No meio da conversa, confessou-me algo que me fez pensar. "Já visitei muitos países, mas se pudesse escolher um país para passar o fim da minha vida, garanto-lhe que seria Portugal". Para onde é que se vai se, em princípio, não se estiver no fim da vida?
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