quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Textbooks are 'lieux de mémoire'

Hoje o dia resumiu-se a leituras e à sensação de que passo as páginas demasiadamente devagar. Esse sentimento faz-me apressar nas seguintes cinco páginas e retardar o avanço novamente. Lidar com listas de leitura com pelo menos 15 livros, indicados para uma semana, exige encontrar soluções: criam-se grupos de leitura. Ou seja, cada um cria a sua estratégia. Há livros de leitura obrigatória e livros de leitura sugerida. O grupo de que passei a fazer parte decidiu dividir os livros sugeridos por cada pessoa: calhou, por sorte, um a cada. Assim, juntamo-nos uma ou duas vezes por semana e partilhamos os apontamentos. De outra forma, ninguém lá chegaria.

A primeira aula da próxima semana, da cadeira Issues in Peace and Conflict, será sobre a importância da História num conflito. Por outras palavras: a história como origem ou como 'cura' de um conflito.

Escolhi um livro de Elizabeth Cole, Teaching the Violent Past: history, education and reconciliation. Definido resumidamente, consiste em saber até que ponto pode a alteração dos livros de história do ensino secundário funcionar como forma de reconciliação. "Os livros de história são parte de um largo processo de negociação e de diálogo social, tendo em vista a representação simbólica do passado dividido e do futuro comum de uma sociedade". Segundo alguns estudos realizados, em casos específicos de alguns países (como Índia/Paquistão, Guatemala ou até Espanha), conclui-se que "da mesma forma que a história pode ser um factor contributivo para a continuação de um conflito, também os programas e livros escolares podem funcionar como catalisadores de um conflito". Uma outra definição, mais simples, considera os livros de história como "lieux de mémoire", "locais onde a nossa memória colectiva é armazenada e disponível para consumo público" [Pierre Nora].

E assim se passa um dia de sol por aqui. Tive ainda tempo de ir ao supermercado, perceber que só existe salmão e bacalhau (!) como peixe. Procurar puré e não encontrar, comprar meio pepino e laranjas, esperar 20 minutos para ser atendida (ninguém reclama, acho incrível) e voltar para casa. Para continuar a ler. Descobri também que uma viagem de comboio de Edimburgo para Londres custa cerca de €100. E a senhora aqui de casa hoje deu-me um postal de St. Andrews e deixou-me o Times em cima da cama ("já não havia o Guardian", disse).

2 comentários:

Margarida disse...

Adorava frequentar essa cadeira, Issues in Peace and Conflict. A temática é muito interessante e importante! A História é, sem sombra de dúvida, um fator de aproximação ou divergência entre os povos. Há uns tempos escrevi um artigo sobre a questão dos "textbooks" israelitas e palestinianos e de como as duas narrativas se opõem perante os mesmos acontecimentos. É muito interessante!!!

Raquel Albuquerque disse...

Uau! O case study que vamos utilizar nessa aula é exactamente Israel e a Palestina. O teu texto não chegou a estar online?