Tudo começa no momento em que se quer um bocadinho mais. É bom, mas é aí que começa tudo. Inicia-se a luta contra o que é habitual, o que é suposto. E há duas opções: ou se é engolido, ou se arrisca. Arrisquei. E, no momento seguinte, estava no aeroporto à espera de um voo com destino a Edimburgo. Com uma mala enviada para o porão, com 18 kg (máximo: 20), porque depois de tantas revisões da roupa que poderia trazer acabei por não trazer quase nada. Cinco horas depois de ter chegado ao aeroporto, entro no avião. Ao meu lado, uma senhora portuguesa passou o tempo a fazer palavras cruzadas. Na única vez em que olhei com mais detalhe para o que ela estava a fazer - lamento tê-lo feito - percebi que ela no fundo procurava palavras como "bróculos", "batata", "cebolinho", numa enchente de letras misturadas.
Chegada a Edimburgo, três horas depois do suposto, não tinha transporte nenhum à minha espera como combinado. A primeira pessoa com quem falei, e que espero voltar a ver no aeroporto, disse-me que a senhora que eu procurava estava "aué" e não "auei". Encarei o meu primeiro desafio: percebê-los.
Encarei o segundo desafio: esperar duas horas sentada. O motorista do 'táxi comunitário' veio ter comigo: um senhor com 1.90m, idêntico ao Robbie Coltrane, ou seja, o Hagrid do Harry Potter. De seguida: uma viagem de 1h10, noite escura, chuva, trânsito ao contrário. Um miúdo americano, sentado atrás de mim, conseguiu aproveitar esse tempo para beber tudo o que podia. Chegámos a Saint Andrews, cidade perdida no meio do nada (ou assim fiquei eu com a impressão): era meia noite de quinta-feira. Deixaram-me à porta da casa onde iria ficar as seis semanas seguintes. Primeiro alívio: o número 17 existia. Terceiro desafio: estaria a senhora a dormir? Chovia, o frio entranhava-se e sentia-me a tremer. Toquei à porta e nada, bati à porta e nada, telefonei e ouvi o telefone tocar, o que me aliviou, mas ninguém abria. Até que aparece a senhora com quem até então apenas tinha trocado emails. Enrolada no seu robe. Consegui pedir desculpa e explicar, em meias palavras, como tinha sido um dia infernal.
Carreguei os 18Kg de mala pelas escadas acima. Escadas alcatifadas, com estantes de livros. Pouco mais conseguia ver. O quarto: adorável. Uma escrivaninha antiga em frente a uma grande janela, com vista para a rua e para uma casa antiga, de pedra (tem um brasão onde diz 1561). Tenho vista para uma enorme chaminé onde pousam uns passarões de vez em quando e, incrivelmente, há borboletas que vêm contra a minha janela.
Cidade de muitas histórias que vão surgindo devagar. Há alfarrabistas no meio da estrada. Entre Sócrates e Platão, há postais antigos e fotografias dos antepassados escoceses, com grandes vestimentas. Os edifícios da universidade são antigos, de pedra, majestosos. E as aberturas do ano lectivo incluem um escocês de kilt, a tocar gaita-de-foles, que aparece à frente dos directores de cada faculdade. Temos de estar em pé e vemo-los entrar, em fila, com enormes capas aos ompros, de diferentes cores. Os discursos têm todos um toque de humor e há professores que são apresentados como "pessoas que estão na universidade há 150 anos".
É também local de muitas conversas, de onde saem belíssimas experiências. E amanhã começam as aulas.
Chegada a Edimburgo, três horas depois do suposto, não tinha transporte nenhum à minha espera como combinado. A primeira pessoa com quem falei, e que espero voltar a ver no aeroporto, disse-me que a senhora que eu procurava estava "aué" e não "auei". Encarei o meu primeiro desafio: percebê-los.
Encarei o segundo desafio: esperar duas horas sentada. O motorista do 'táxi comunitário' veio ter comigo: um senhor com 1.90m, idêntico ao Robbie Coltrane, ou seja, o Hagrid do Harry Potter. De seguida: uma viagem de 1h10, noite escura, chuva, trânsito ao contrário. Um miúdo americano, sentado atrás de mim, conseguiu aproveitar esse tempo para beber tudo o que podia. Chegámos a Saint Andrews, cidade perdida no meio do nada (ou assim fiquei eu com a impressão): era meia noite de quinta-feira. Deixaram-me à porta da casa onde iria ficar as seis semanas seguintes. Primeiro alívio: o número 17 existia. Terceiro desafio: estaria a senhora a dormir? Chovia, o frio entranhava-se e sentia-me a tremer. Toquei à porta e nada, bati à porta e nada, telefonei e ouvi o telefone tocar, o que me aliviou, mas ninguém abria. Até que aparece a senhora com quem até então apenas tinha trocado emails. Enrolada no seu robe. Consegui pedir desculpa e explicar, em meias palavras, como tinha sido um dia infernal.
Carreguei os 18Kg de mala pelas escadas acima. Escadas alcatifadas, com estantes de livros. Pouco mais conseguia ver. O quarto: adorável. Uma escrivaninha antiga em frente a uma grande janela, com vista para a rua e para uma casa antiga, de pedra (tem um brasão onde diz 1561). Tenho vista para uma enorme chaminé onde pousam uns passarões de vez em quando e, incrivelmente, há borboletas que vêm contra a minha janela.
Cidade de muitas histórias que vão surgindo devagar. Há alfarrabistas no meio da estrada. Entre Sócrates e Platão, há postais antigos e fotografias dos antepassados escoceses, com grandes vestimentas. Os edifícios da universidade são antigos, de pedra, majestosos. E as aberturas do ano lectivo incluem um escocês de kilt, a tocar gaita-de-foles, que aparece à frente dos directores de cada faculdade. Temos de estar em pé e vemo-los entrar, em fila, com enormes capas aos ompros, de diferentes cores. Os discursos têm todos um toque de humor e há professores que são apresentados como "pessoas que estão na universidade há 150 anos".
É também local de muitas conversas, de onde saem belíssimas experiências. E amanhã começam as aulas.
3 comentários:
Aqui estarei muitas vezes, prometo, para ler sobre esta aventura. Vamos a isto, Raquel.
Só posso agradecer. Cá vou eu...
Boas aulas! E cá ficamos à espera da foto do fogão... ;-)
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