Visitei museus, comi sandes até não poder mais, bebi sumo de laranja e cafés. Descobri um alfarrabista em Paddington, que tinha uma cave cheia de livros a metade do preço. Deliciei-me durante uma hora, fiz as contas e trouxe três livros por quatro libras. Enquanto pagava, encontrei um guia sobre Lisboa, em inglês, por duas libras. Estava pousado na mesa das 'boas oportunidades'. Deixei-o lá, imaginando que em breve pudesse ser comprado por alguém. Agarrei no meu saco e vim-me embora, feliz pela minha compra. No dia seguinte, dividi as minhas horas em Londres pelas três entrevistas, embalada pela mesma sensação do dia anterior. Parei num banco do Hyde Park por uma hora. Um banco dedicado a Ali Afridi, pela Laila. Vários portugueses e brasileiros passaram ali: tenho curiosidade em saber qual o aumento de portugueses em Londres nos últimos tempos. Indianos, árabes, asiáticos: bebés de todas as cores, mulheres de lenço ou de calções. Várias línguas e formas de olhar. Mas seja como for todos param em frente aos esquilos ou dão comida aos pombos. Minutos depois viria a conhecer um majestoso hotel perto do Hyde Park, onde me depararia com tão diferentes conversas. Três cafés depois, partia em direcção ao metro. E depois ao comboio. Já de rastos, esperei uma hora na estação até apanhar o comboio nocturno que me levaria de Londres até à Escócia. Tentei dormir mas as oito horas e meia de viagem, com as luzes permanentemente acesas, desesperaram-me. Recorremos todos às vendas nos olhos, oferecidas pela Scot Rail. Cada um tinha um ar mais tresloucado que o outro com as vendas postas nos olhos, mas cinco horas depois já era indiferente. Acordei de meia em meia hora sem circulação nas mãos. E às cinco e um quarto da manhã, comecei a arrumar as minhas coisas todas para não me esquecer de nada. Às cinco e quarenta e dois chegámos à estação. Cheguei à porta do comboio e a estupidez trazida pela exaustão fez com que não a conseguisse abrir [não cabe na cabeça de ninguém que o fecho da porta do comboio só exista por fora, exigindo que tenhamos de abrir a janela]. Bati em desespero, até um único senhor que saiu do comboio me ter aberto a porta. Subi e desci os milhentos degraus da estação, entrei no táxi e quando o taxímetro corria ao segundo nocturno, lembrei-me do meu saco de livros do bouquiniste. Tinha ficado no comboio.
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