segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Melhores histórias nos piores hotéis

Ray Bonner é jornalista e foi durante muito tempo correspondente do New York Times em vários países. Foi nomeado para o Pulitzer em 2001, com um trabalho sobre a pena de morte, trabalho esse que nos disse hoje considerar ser um dos melhores que fez, "talvez porque foi um dos que tiveram mais efeito". Dirigiu-se à nossa mesa no bar, depois de termos assistido a um curto seminário sobre o conflito na perspectiva de um jornalista. Hoje vive em St. Andrews e continua a escrever para o The New York Times e para a The New Yorker. Tem um episódio marcante na Times: a publicação de uma história fê-lo ser afastado de uma secção. A história contava o massacre de uma aldeia em El Salvador, durante a guerra civil, levado a cabo pelos militares salvadorenhos. Mas paralelamente, ainda no contexto da Guerra Fria, os Estados Unidos enviavam apoios para El Salvador. Criticada a publicação da história pela administração de Reagan, Ray foi movido para outra secção, levando-o a demitir-se. Tempos depois foi comprovado o massacre. Contou-nos hoje que desde os 18 anos nunca viveu mais de quatro anos no mesmo sítio. Acrescentou ainda que um correspondente não deve ficar num país mais do que dois ou três anos porque "deixa de ver o que o rodeia". E lembrou o que alguém um dia lhe disse: "as melhores histórias estão nos piores hotéis".

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