Adiava a prometida despedida do alfarrabista, o senhor de camisola de malha por cima de uma camisa de flanela com quadrados. Mas de repente receei já não o ver mais. Ele surgirá sempre aos meus olhos com as suas rosetas vermelho-vivo, cor que se alarga para lá das bochechas quando se envergonha. Até isso temos em comum. Entrei para me despedir, tal como tinha entrado há uns meses atrás para conhecer pela primeira vez a book shop da rua. Estava só ele, no seu cantinho, só lhe vejo um bocadinho do já pouco cabelo alourado. 'Como prometido, aqui estou para me despedir'. E ele levantou-se, já com o vermelho alastrado, perguntou-me pelos meus últimos dias. Respondi-lhe e estendeu-me um postal antigo. Um dos postais perdidos que durante oito meses eu vi dentro dos caixotes, pequeninos, ordenados por países, com histórias que nunca chegaram ao destino, com elogios e notícias que nunca chegaram a ser ouvidos. Nunca comprei nenhum. E no último dia antes de partir, era exactamente isso que ele me estava a dar. Dentro de uma capinha de plástico. 'É a Market Street que conheces, mas há muitos anos atrás', disse-me. Virou o postal para me mostrar que tinha já posto o cartão com os contactos da loja, o resto do postal estava em branco. Já não branco de cor, mas por não ter nada escrito. Engoli em seco, o mais forte que consegui, tentando nem pensar. Trocámos umas palavras e saí. Quando desviei o cartão com os contactos dele, percebi que afinal tapava uma frase, escrita a lápis no postal: 'Best wishes for the future, Bill'.
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:,)
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